Os Pregadores de Que Precisamos
“Eis que ponho as minhas palavras na tua boca.” (Jr 1.9)
Parece não carecermos de gente articulada, comunicativa e de boa oratória. Tão pouco de quem saiba fazer uso e abuso das palavras de nosso vernáculo. Não há falta, também, de gente capaz de manipular, pelo carisma e aparência de piedade, multidões alucinadas pelas frases e jargões sem efeito. Não faltam, ainda, aqueles capazes dos mais variados milagres e manifestações de poder com dias e horas marcados. Não se faz necessário nem falar dos que são profissionalmente representativos no púlpito de uma realidade não existente nos bastidores da vida. Carecemos, na verdade, e urgente, de profetas da Palavra. Pregadores do Evangelho Simples de Jesus de Nazaré. Homens que falem à consciência; e, não a emoção. Compromissados com a Palavra; e, não com os acordos institucionais e pessoais.
Eu, pessoalmente, estou cansado de vendedores de produtos impactantes, de pedintes diuturnos de um Deus de barganhas, de milagreiros solucionadores do impossível e da necessidade de concentrações em lugares míticos e sagrados como único meio de encontrar o divino.
Sempre me impressionei com Jeremias pela sua existencialidade bipolar. Ao tempo que era um homem irresistível e indobrável diante dos inimigos, das tempestades, das ameaças e das tentações, revelava-se como um homem extremamente sensível a dor, ao sofrimento, a realidade espiritual de seu povo e de seu tempo. Inflexível quanto à negação da vocação; flexível quanto à necessidade do próximo. Firme na entrega da mensagem; sensível na intercessão. Este era o pregador que mais desempenhou o papel de sacerdote e profeta ao mesmo tempo. Nele encontro as características dos pregadores de que precisamos:
Precisamos de pregadores com coragem profética. A característica principal de um profeta era a coragem de falar a verdade “doa a quem doer”. O compromisso do profeta era com quem o enviou. O profeta não ousava alterar a mensagem, nem atrevia-se manipulá-la. A Palavra do Senhor em sua boca era verdade. De Samuel se diz que “nenhuma de todas as suas palavras deixou cair por terra”. Poderíamos falar o mesmo dos tele-evangelístas hodiernos?
Precisamos de pregadores com sensibilidade sacerdotal. Esta é a característica que mais me impressiona em Jeremias. Ele não perde a sensibilidade humana ante a anti-humanidade de Judá. Apesar da palavra de juízo divino em sua boca contra aquele povo que desejava matá-lo, ele não deixa de interceder pelo mesmo; a ponto de Deus mandá-lo parar de orar por eles. Precisamos de pregadores que tratem humanos como gente e dinheiro como servo. Que não se deixem possuir pelo poder e pela fama a ponto de não enxergarem mais as pessoas, mas somente coisas. Que saibam fazer a diferença entre coisa e gente; entre meio e fim; entre eterno e efêmero; entre Deus e o diabo.
Precisamos de pregadores com resignação dos mártires. Resignação... Será que os pregadores sabem o que é isso?! Com a eminência dos pregadores hodiernos certos termos deixaram de existir e outros perderam seus sentidos originais e etimológicos. Talvez nem saibam mais o que é ser um mártir! Jeremias foi tão resignado a ponto de ser jogado no calabouço e na cisterna; ser expulso da cidade e do seio da família. Nossos pregadores morreriam de verdade pela causa que dizem pregar?
Ah! Senhor! Dê-nos pregadores de que precisamos.
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